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Foto do escritorLucas Almeida

A casa nasceu sendo uma extensão do espaço em que vivíamos. Quando precisávamos de abrigo para a chuva construíamos uma cobertura, quando precisávamos descansar construíamos um banco e aquilo que não podia ser construído ficava ao redor. O banheiro, antes de ser construído o sistema de esgoto urbano, tinha que ser separado da área social por questões de higiene, assim como a roupa que era lavada no rio ganhou um espaço fechado para ela assim que descobrimos a tecnologia para criar a máquina de lavar roupas. Entretanto a vida moderna e com menos espaço pede cortes e as grandes lavanderias, que também eram o espaço de estocagem e atividades manuais, foram sumindo dos apartamentos, cada vez mais integrados.

Um paradoxo da arquitetura é exatamente compreender esses ambientes, que muitas vezes não são prioritários, mas que necessitam de mais espaço conforme o tamanho da família que vive ali. Uma cadeira a mais facilmente resolve uma mesa de jantar apertada, entretanto, é preciso de um dimensionamento preciso para dar conta de administrar as roupas de uma pessoa a mais, por isso as lavanderias modernas estão cada vez mais em um limiar entre espaço social e funcional.

Certamente existem aquelas famílias que prezam pela distinção de ambientes, ainda que a integração possa ser feita com um mesmo piso amadeirado que vem da área social do apartamento até a cozinha. Paredes de armários monocromáticas também são soluções precisas para esses espaços que precisam de armazenamento, mas também não podem parecer amontoados.

De qualquer maneira, os espaços de serviço, produção e armazenamento já não são mais lugares isolados da nossa casa, a vida moderna pede que eles sejam espaços sociais pois são atividades que se encaixam em nossas rotinas exatamente nos momentos que precisamos de companhia. Uma banqueta para o amigo que te acompanha ao fogão, um tanque que funciona como pia para lavar a mão, pisos integrados e murais artísticos e outros muitos elementos começaram a fazer parte das nossas cozinhas e invadiram também a lavanderia, afinal estender roupas pode ser chato, mas fica mais prazeroso num ambiente bonito e com boa companhia.

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Foto do escritorLucas Almeida

Cada vez mais existem pessoas que baseiam sua alimentação em aplicativos de entregas, comidas congeladas para o mês, restaurantes e cozinhas colaborativas e passam cada vez menos tempo em casa preparando comida, tanto pela rotina quanto pela falta de interesse. Isso defende a arquiteta Anna Puigjaner quando diz que alguns serviços domésticos são trabalhos externos que devem ser remunerados.

Ainda que as cozinhas tenham sido um centro de reunião de muitas famílias por conta de diversos elementos, como o calor do fogo, o cheiro da comida sendo preparada, ser o espaço onde se faz as refeições em conjunto e tudo mais, o estilo de vida contemporâneo tem outras formas de ritualizar. Mesmo que as cozinhas não desapareçam elas podem se transformar em galerias de arte, por isso foi proposto um painel artístico inspirado nos jardins de Inhorim, com uma longa bancada para preparar drinks e petiscos e abrigar os convidados em banquetas ao redor do fogão que torna a atividade de preparar comida uma função social.

Dentro desse pensamento as escolhas estéticas também viram uma função para o ambiente, pois elas vão refletir ideais e conceitos que criam uma ambientalidade nas cozinhas, sendo assim, os revestimentos são outro elemento que podem passar por uma grande evolução dentro desses espaços de produção. As cores e texturas dos revestimentos propõem diferentes percepções para ambientes diferentes com as mesmas funções e isso pode importar muito quando pensamos que a cozinha é, também, um espaço social da casa. As pastilhas douradas com puxadores de baús nos armários vermelhos criam uma paleta intensa e vibrante para essa cozinha que, além de prática e dinâmica, tinha a proposta de ser teatral.

A evolução dos espaços de morar pode até ser lenta, porém passamos de cavernas para castelos e apartamentos estúdios em alguns milhares de anos, ainda que a extinção da cozinha possa ser algo completamente impensável para a nossa sociedade, ou ainda uma possibilidade nova para os pensadores mais radicais, é inegável que os materiais, as texturas e os processos que pensamos para construir um ambiente evolui com muito mais rapidez Portanto o que faz sentido hoje pode não ser muito cômodo em alguns anos e é isso que Anna defende em seu trabalho, seja você um chef de cozinha que preza por ter eletrodomésticos profissionais e criar um ambiente onde o preparo da comida seja o verdadeiro espetáculo, ou a pessoa que prefere uma cozinha branca e minimalista com tudo em seu lugar e sem excessos estéticos.A cozi


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Foto do escritorLucas Almeida

O pós-guerra foi uma época de grandes avanços tecnológicos na Europa que se reconstruía, rendendo uma busca por maior praticidade, ergonomia e eficiência. Margarete Schütte-Lihotzky, arquiteta vienense, apresentou ao mundo o que seria conhecido como a Cozinha de Frankfurt, pensada para facilitar os processos de preparo e armazenamento, praticidade na limpeza e ergonomia do usuário. Ainda que esse trabalho de design propusesse criar a cozinha perfeita, ela tinha uma porta pensada para isolar a área de preparo da área social; acontece que a Cozinha de Frankfurt foi criada dois anos antes do voto feminino universal ser aprovado no Reino Unido, em um período entre duas guerras mundiais.

Ainda que a perfeição seja cientificamente comprovada, afinal a Cozinha de Frankfurt era mais prática, eficiente e ergonômica que cozinhas tradicionais, podemos imaginar que o que entendemos por ideal e perfeito muda com o passar do tempo. Ainda que Margarete defendesse os armários azuis escuros para facilidade de limpeza, hoje nossas cozinhas demandam o aconchego da madeira que abraça o piso e a mesa de jantar, ainda que seja preciso integrar eletrodomésticos que outrora estariam escondidos numa edícula, porque atualmente, já não temos mais tanto espaços para ter uma edícula.

Não só a tecnologia avança, mas as necessidades também acompanham a evolução. Para um confeiteiro, a cozinha perfeita precisa ter bancadas claras e resistentes, fornos potentes e uma área de refeições integrada, mas daqui cinco ou dez anos, essa necessidade pode ser outra, já que* cada vez mais percebemos como o mundo muda rápido e como somos capazes de nos adaptar.

E parece ser muito natural que a evolução das nossas cozinhas tenha sido se abrir para a mesa de jantar e o sofá, afinal, se esses dois móveis não fossem tão importantes para a história das nossas casas eles não teriam ganhado textos próprios. Por isso que projetamos e construímos, reprojetamos e reformamos, porque mesmo que nossa mesa esteja talhada em mármore, sempre podemos acabar precisando de mais uma cadeira; ainda que a geladeira seja grande as vezes teremos que comprar mais gelo e ainda que o sofá caiba todo mundo, as vezes teremos que puxar uma banqueta.


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