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Orgulho

Segundo o dicionário, o verbete orgulho indica “sentimento de prazer, de grande satisfação com o próprio valor, com a própria honra”, é exatamente esse sentimento que é comemorado mundialmente no mês de junho, quando relembramos que em 1969 no West Village, em Nova Iorque, uma mulher transsexual quebrou o para-brisa de um carro de polícia iniciando o que seria o marco zero na luta pelos direitos LGBTQIAP+ em uma manifestação pacífica na qual ninguém morreu. Cinco décadas depois, o motim de resistência que se iniciou com uma mulher trans negra em frente ao bar Stonewall Inn é celebrado em uma Parada do Orgulho nas maiores capitais do mundo durante o mês de junho, e São Paulo pode se orgulhar se ter a maior do mundo, movimentando não apenas a economia como o turismo na cidade[1].

Essa comemoração da luta pelos direitos das pessoas LGBTQIAP+ acontece na capital paulista desde 1997 e ressignificou um momento de luta violenta na história da comunidade queer. Marsha P. Johnson, assim como Diana Ross, Eduardo Lafon e Silvetty Montilla, ilustram as paredes da Casa Fluida, um bar no centro de São Paulo que celebra o orgulho de ter essas pessoas revolucionárias como padroeiras para que hoje nós possamos nos reunir, amar e fluir sem medo.

O bar-restaurante, que também abriga uma galeria de arte, ocupa três andares de uma casa na Rua Bela Cintra onde acontecem shows de drags enquanto é servido o melhor drink com rapadura da capital. Os ambientes internos e externos vão criando espaços para a convivência dos frequentadores que sempre é marcada pelo show de Mahina Starlight, a drag residente da casa. Subir as escadas se transforma em uma experiência de descoberta, pois nunca se sabe se iremos encontrar um ateliê, obras penduradas nas paredes, mais mesas, um grande camarim ou até mesmo um terraço com murais de diversos artistas e uma vista da noite paulistana. As luzes difusas e essa quantidade enorme de informação e detalhes foram pontos trabalhados com carinho nesse projeto, para que a ambiência do bar fosse muito aconchegante, ainda que despertasse curiosidade aos olhos.

Todo o sincretismo cultural que acontece dentro dessas paredes se expressa também de maneira visual em todas as partes, a estética cabaré com ambientes muito coloridos, luz difusa e muitos mobiliários antigos cria um clima bastante interessante para esse espaço que é um pouco de muita coisa. Os detalhes em dourado vão acompanhando os três andares da casa, assim como o piso de madeira, o bar é visualmente marcado por uma bancada de mármore iluminada e a varanda tem neons e cadeiras junto aos painéis artísticos das paredes laterais. O camarim burlesco não é por acaso, qualquer um de nós pode chegar na casa buscando apenas um drink e sair montado, após um batismo drag que acontece aos finais de semana.

Hoje, essas pessoas queers que visitam a Casa Fluida em casais, com lares, trabalhos e vidas construídas fora dali celebram Stonewall apenas por existirem. Este virou um espaço em que chegamos buscando uma noite divertida e saímos com uma experiência de estar vivendo algo que conquistamos com luta, porém também com muito amor em celebração da diversidade. Esses símbolos de diversidade estão expressos na nossa bandeira com o vermelho simbolizando a vida, o laranja a cura, o amarelo a luz do sol, o verde a natureza, o azul a arte e o lilás o espírito, porque a cultura queer é exatamente sobre isso, sobre se expressar, viver, amar e ser amado, construir coisas e fazer o bem, é sobre fluir nesse lugar, baby.

[1] https://www.capital.sp.gov.br/noticia/parada-do-orgulho-lgbt-se-consolida-como-a-maior-do-mundo-e-movimenta-a-economia-da-capital

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