Dizem que a boa identidade visual é aquela que reconhecemos só de ver as cores ou com uma descrição extremamente abstrata, como quando digo que comi um hambúrguer no restaurante do palhaço ou que minha vó gosta de ouvir a música do rei. Entretanto, a identidade muda muito com o tempo e o que vale para uma geração nem sempre é entendido pelas outras, basta ver qualquer tentativa minha de mostrar algum meme para a minha mãe e estragar toda a piada tendo que explicar e, ainda assim, ela não achar graça alguma em nenhuma das vezes.
Sendo assim, interessa muito para comércios que seus espaços sejam muito bem lembrados, talvez seja necessária uma rede mundial de fast food para ser reconhecido meramente por uma coroa, mas com a ajuda da internet e das redes sociais já é possível ser a pizzaria do banco amarelo ao menos no seu bairro. Esse tipo de comunicação não serve apenas para criar uma identidade de marca, afinal enquanto arquitetos estamos tão qualificados para projetar comunicação visual de marcas quanto açougueiros para fazerem uma cirurgia cardíaca, porém estudamos cores, formas, relações de espaço e conceitos de estética e, com isso, somos capazes de fazer ambientes que se tornam memoráveis pelo que são e, aliado a isso, cria-se uma marca forte.
Por isso que, diferente de quando falamos dos espaços que a arquitetura cria num lar, quando se trata de projetos comerciais não existe apenas uma família com um grupo de amigos que ocasionalmente fazem visitas para viver aquele projeto, nesse caso, o projeto contempla literalmente qualquer pessoa que passar por esse estabelecimento e se sentir atraído para entrar, seja intencionalmente ou apenas por descobrir um novo café andando pela rua e sentir a curiosidade de conhecer o local.
A diferença não está somente na escala do projeto, que abarca uma quantidade maior de usos e uma intensidade maior de fluxos, mas também nos espaços em branco que a arquitetura naturalmente deixa para que novas coisas nasçam e o ocupem. A vida, que só existe depois de o projeto ser ocupado, não será mais singular, de uma pessoa, uma família ou um grupo de conhecidos, esse espaço em branco deve ser suficientemente abrangente para que qualquer tipo de pessoa em qualquer circunstância possa usar e aproveitar aquele espaço da forma que lhe for mais confortável.
Por isso que se torna muito interessante projetar espaços comerciais, porque o destino nem sempre é aquele que foi imaginado inicialmente em projeto, porque ainda que as funções sejam claras ou até mesmo explicadas um espaço começa a ganhar novos usos a partir do contexto social e cultural de cada usuário que passar por ali e, sendo assim, ele dificilmente será exatamente igual foi na cabeça do arquiteto e, mais ainda, certamente mudará muito com o passar do tempo.
Então a graça de projetar espaços comerciais está, exatamente, na surpresa de voltar ali diversas vezes com o passar do tempo e ver como as pessoas se apropriam da arquitetura de diversas maneiras que jamais poderiam ser projetadas, previstas ou induzidas. Por isso que a arquitetura é tão silenciosa quando é bem feita, porque ela sabe exatamente o tamanho dos espaços em branco que precisa deixar para permitir que os usuários se sintam confortáveis para contar suas próprias histórias naquele espaço.
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