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O café

Atualizado: 3 de set. de 2021


Muito mudou na forma de trabalhar nesses últimos dois anos e grande parte de nós passou por alguma adaptação, seja na transição para o home office ou começando a usar máscaras e sentar distante dos colegas. Contudo, enquanto nossa dinâmica de trabalho virava de cabeça para baixo houve uma coisa que não saiu em momento algum do lado do computador: a xícara de café. Mesmo que o ambiente seja completamente diferente trabalhando em casa, no escritório, em um espaço de coworking ou numa mesa de parque embaixo de uma árvore com uma sombra aconchegante é bem provável que a xícara ficará ao lado do teclado, preferencialmente na esquerda para que não aconteçam acidentes quando mexermos o mouse, e em grande parte das vezes ela estará vazia apenas esperando que qualquer voz na sala faça o devido convite: “vamos ali tomar um cafezinho?”

O café talvez seja uma das poucas coisas que ainda nos traga a sensação de estarmos realmente no trabalho em meio à tantas mudanças repentinas. Para os que foram rapidamente mandados para o home office, sem ao menos poder se despedir dos colegas por tempo indeterminado, a pausa para o café traz de volta o clima descontraído de ficar em pé ao lado do bebedouro contando as aventuras do último fim de semana ou fofocando sobre a briga de quarta feira no sétimo andar. E depois de tanto tempo em uma nova rotina acredito que muitos, assim como eu, sentem falta do escritório e dos detalhes que o tornavam especial, seja uma pintura na parede que servia de fundo para várias selfies, um armário azul que alegrava o ambiente, a mesa redonda na sala de funcionários onde se jogava conversa fora no horário de almoço ou até mesmo a copa, onde alguém sempre tinha deixado um saquinho de balas ou um pote de paçocas.

Nesse tempo também vimos quartos, cantinhos na sala, espaços no corredor e até mesmo mesas da cozinha virando verdadeiros escritórios. O canto onde se apoiava a bicicleta de um dia para o outro ganhou uma mesa, dois monitores e uma impressora. A cama do quarto de hóspedes começou a ser usada para os cochilos depois do almoço e a mesa da cozinha virou um organismo vivo que hora apoia um arroz com feijão e fritas e logo em seguida diversas planilhas no Excel. E não apenas a mesa passou a ser um lugar primordial, mas também o que estava atrás da cadeira. De pinturas a vastas estantes de livros, que as vezes nos perguntamos se são realmente de verdade ou apenas um cenário. O enquadramento de alguns metros na frente da câmera do notebook virou nosso novo habitat e os colegas de trabalho, que muitas vezes apenas trocavam cumprimentos conosco, passaram a conhecer um pouco do nosso mundo particular. Junto à isso apareceram os gatos e cachorros invadindo reuniões, crianças chorando e pessoas passando apenas de toalha de banho enquanto ouvíamos sobre o desempenho do mercado financeiro.

E mesmo que mudança seja, na maioria das vezes, algo muito bom e importante para o nosso progresso a saudade de coisas pequenas ainda nos faz repetir aquele ambiente dentro de casa. E exatamente por não sabermos mais até quando esses novos formatos serão usados, ou se realmente vamos voltar aos antigos escritórios de luz branca e bebedouros com copos plásticos presos na parede, que o home office virou tão parte da nossa personalidade. Acredito que hoje já possamos falar muito de uma pessoa pelo que vemos pela câmera durante as reuniões e podemos supor mais ainda quando alguém a deixa desligada, talvez ainda exista muito para se acostumar, entender e conhecer sobre a infinidade de maneiras novas de trabalho que experimentamos em tão pouco tempo, mas apesar de tudo isso, sempre será uma alegria ouvir o barulho e sentir o cheiro de um café sendo passado.

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